Dados abertos e a saúde pública

Já discutimos brevemente aqui no blog sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que fazem parte da Agenda 2030 da ONU (artigo Educação e a Agenda 2030), cujo objetivo é engajar nações do mundo todo na busca do desenvolvimento em sinergia com o tripé da sustentabilidade (social, ambiental e econômico). O terceiro objetivo “Saúde e Bem Estar” é tema de projeto em andamento dentro do NECIS (Núcleo de Estudos em Cidades Inteligentes e Sustentáveis) e está em sua segunda fase de trabalho.

O projeto tem como objetivo capturar dados abertos relacionados às metas do ODS 3 e modelá-los com técnicas estatísticas e de aprendizado de máquina com intuito de extrair informações relevantes que possam alimentar a gestão da saúde pública tornando-a mais inteligente.

O ODS 3 apresenta 13 metas que contemplam desde a redução da mortalidade materna e infantil, formação e retenção de profissionais de saúde até o investimento em desenvolvimento de vacinas, ou seja, é um objetivo essencial para o desenvolvimento sustentável de qualquer nação, mas por outro lado, amplo e complexo de se gerenciar.

O primeiro desafio que os pesquisadores do NECIS encontraram no projeto foi a busca e captura dos dados. O DataSUS, banco de dados abertos da saúde pública brasileira, reúne bases de dados de unidades de saúde de todo o país, e, como se pode imaginar, é um oceano que contempla diferentes Sistemas de Informação (Sistema de Informação da Atenção Básica, Sistema de Informações Ambulatoriais, Sistema de Informações Hospitalares, entre outros). Em suma, há muitos dados, por vezes distribuídos em diferentes sistemas, o que torna um desafio a criação de uma base de dados que permita a criação de modelos.

Nessa questão dos dados, podemos destacar que a recuperação dos dados e a criação de uma base de dados voltada para objetivos de gestão, contendo as variáveis de interesse, é fundamental, mas precisamos pensar um passo antes, a criação do dado na ponta, ou seja, o preenchimento dos cadastros e relatórios nas unidades de saúde, pelos profissionais de atendimento, é fator crítico de sucesso para a implementação de uma Gestão Orientada por Dados da Saúde Coletiva.

O DataSUS apresenta excelentes dados e pode ser ainda melhor se os profissionais que lidam diariamente com pacientes, ou que fazem os pedidos de suprimentos e medicamentos, tiverem recursos e treinamento adequados para alimentar os sistemas de forma estratégica, ou seja, pensando que aqueles dados retornarão para as unidades de saúde em forma de relatórios que auxiliarão a gestão mais produtiva e eficiente daquela unidade.

Em Estatística é um mote dizer “Garbage in, Garbage out”, ou seja, bons dados geram bons modelos, dados ruins, geram modelos ruins. Devemos buscar, nas políticas de dados abertos, não apenas liberar os dados para acesso público, mas também a melhoria contínua da qualidade (totalmente preenchidos e livres de erros) e diversidade dos dados, com isso, a Gestão Orientada por Dados tão discutida entre gestores se torna viável e completamente possível, trazendo imensos ganhos para a gestão pública e para nós cidadãos.

05/05/2023 14:13 - Profa. Dra. Daielly Mantovani - Profa da FEA-USP e Líder do NECIS

@karolina.grabowska