Saúde Pública e Administração da Informação: juntos somos mais fortes!

A elaboração das políticas públicas de saúde depende de um diagnóstico situacional que leve em consideração aspectos demográficos, econômicos e sociais. Deste modo, informações sobre como vivem as pessoas e suas vulnerabilidades são cruciais para o sucesso de qualquer estratégia de saúde pública.

A Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde (SUS) atribui à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a responsabilidade de organizar e coordenar o sistema de informação de saúde ao tempo que assegura que as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde tenham acesso aos serviços de informática e bases de dados, mantidos pelo Ministério da Saúde, permitindo a gerência informatizada das contas e a disseminação de estatísticas sanitárias e epidemiológicas médico-hospitalares.

Na fazer cotidiano dos profissionais de saúde, o registro de dados é uma norma que deve ser seguida à risca por todos que atuam no SUS. Aos dados coletados pelos Agentes Comunitários de Saúde durante as visitas domiciliares, somam-se os registros obtidos nos diversos serviços ofertados pelo SUS: peso, altura, pressão arterial, níveis de glicemia, doenças ou condições adquiridas, motivos de internamento, medicações utilizadas, dados do óbito, dentre outros, devem ser registrados com precisão durante os atendimentos prestados.

A forma de registrar, armazenar e processar dados no âmbito dos serviços públicos de saúde brasileiros modificou-se de forma expressiva na última década. Num intenso processo de informatização, os formulários preenchidos à mão pelos profissionais de saúde e posteriormente entregues nos centros de processamentos de dados das secretarias de saúde deram lugar ao Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), um software gratuito, desenvolvido e disponibilizado pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, cuja interoperabilidade com diversos sistemas de informação já utilizados pelo SUS contribui para o aprimoramento do registro e processamento dos dados de saúde, sobretudo nas unidade de Atenção Primária à Saúde

Contudo, a informatização por si só não encerra a transformação necessária para que o ciclo da informação se complete na saúde pública. A missão de preparar os profissionais para alimentar os sistemas com dados fidedignos de modo a gerar informações úteis para o aprimoramento da atenção prestada aos cidadãos está apenas começando.

Em outras frentes, pesquisadores têm se debruçado sobre as formas de tornar mais eficiente a produção de informações de interesse da saúde. Contudo, a subnotificação no registro de doenças e agravos de notificação compulsória, bem como nos procedimentos realizados pelo SUS tem se constituído num grande desafio para a obtenção de informações precisas.

Deste modo, para que dados resultem em informações válidas, uma série de estratégias podem ser utilizadas, sendo uma das mais potentes o cruzamento de variáveis sociais, econômicas e sanitárias, obtidas em grandes bases de dados abertos. Tais informações podem revelar o perfil epidemiológico dos usuários do SUS, bem como os determinantes e condicionantes para as doenças e agravos, tornando-se, portanto, balizadoras da formulação, execução e avaliação das políticas públicas de saúde.

É neste cenário que se dá o encontro da Saúde Pública com a Administração da Informação: campos de estudo que se complementam na pavimentação de um caminho possível para a produção de informações valiosas tanto para os profissionais que atuam na assistência quanto para os gestores das políticas públicas de saúde.

11/06/2022 09:57 - Profa. Dra. Emmanuelle F. M. de Anias Daltro.  Professora, Pesquisadora e Auditora em Saúde Pública do Sistema Nacional de Auditoria - Secretaria Municipal da Saúde do Salvador e Pesquisadora do NECIS

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